sexta-feira, 17 de abril de 2015

O MINISTÉRIO CRISTÃO NO CONCEITO DE CLEMENTE DE ROMA

Texto apresentado ao SCEN como pré-requisito para o curso de Mestrado em Ministério. 

TEMA GERADOR: Ministério Cristão
Por, Járber Sousa
Clemente ocupou a posição de bispo de Roma (95-96), foi discípulo dos apóstolos e relator das mortes de Paulo e Pedro, recebeu destes, instrução e o mentoreamento suficiente para exercer o seu ministério na igreja de Cristo. Como resultado do seu ministério, temos na sua carta aos Coríntios a sua compreensão e paixão sobre o que é e como deve ser exercido o ministério cristão.
Para Clemente, o exercício do ministério deve ser desenvolvido como sendo uma oferta agradável a Deus, parte da adoração e devoção de quem foi chamado para tal missão:
“devemos fazer ordenadamente tudo aquilo que o Senhor nos ordenou fazer em determinados tempos, a saber, que realizemos as oblações e os ofícios litúrgicos, não inconsiderada e desordenadamente, mas nos tempos e nas horas estabelecidas.”
Essa compreensão corresponde ao que possivelmente Clemente tenha aprendido de Pedro sobre a prática dos deveres do ministério quando disse, “pastoreais o rebanho de deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; não por sórdida ganância, mas de boa vontade” (I Pe 5.2).
Se todos os que têm convicção da sua vocação fossem cônscios desta verdade, de exercer o seu ministério “como Deus quer”, concordariam com Clemente que não há razão maior do que esta para se dedicar ao exercício do ministério como sendo um culto a Deus, uma oferta agradável ao que nos chamou!
Outra importante razão que deve ser motivo para desenvolvermos os talentos de Deus recebidos, é que não fomos nós que nos fizemos ministros, mas fomos chamados por Deus para sermos seus ministros. Esta mesma convicção teve Paulo ao enfatizar; “Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por vontade de Deus”; convicção que pode ser encontrada de forma idêntica ou semelhante nos primeiros versos da maioria de suas cartas, exceto Filipenses, I e II Tessalonicenses e Filemom.
Sobre isto, também escreveu Clemente:
“Também ele mesmo fixou, na sua vontade soberana, onde e por quem seriam celebrados [...] ao sumo sacerdote foram conferidos os seus próprios ofícios; aos sacerdotes foi reservado um lugar especial; aos levitas foram impostos os seus próprios deveres; e o leigo está sujeito aos preceitos próprios aos leigos.”
A compreensão de ministério e a convicção de quem nos chamou certamente nos conduzirá a realizar a obra como culto racional àquele que nos designou. Diz Clemente: “a fim de que tudo seja feito de acordo com o seu querer, sendo pura e santamente no seu beneplácito, aceitável à sua vontade”.
Percebe-se nitidamente a influencia de Paulo e Pedro na vida de Clemente que ao escrever à comunidade coríntia, ele incentiva os cristãos a se identificarem com o próprio Cristo“cada um de nós, irmãos, agrade ao senhor, conforme lhe está prescrito, com boa consciência, reverentemente, sem transgredir a norma que rege o seu ministério.
Esse mesmo conceito no exercício do ministério é ratificado por Paulo ao exortar Timóteo a ser:
“padrão dos fiéis, na palavra, no procedimento, no procedimento, no amor, na fé, na pureza [...]. Continua nestes deveres, porque fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Tm 4.12,16).
Fomos chamados por Deus e instruídos por homens também vocacionados que nos motivam a sermos este padrão exigido pelas escrituras. Não por nós, mas pelos que nos ouvem, nos veem e esperam de nós qualidades aprovadas. Como afirma Clemente: “assim, aqueles fazem suas oblações nos tempos determinados são aceitáveis e bem-aventurados, pois não erram segundo as leis do senhor”.
Para Clemente de Roma, a semelhante de seus mentores, o ministério ideal não aquele que demonstra êxito somente enquanto vive aquele que o exerce. Mas aquele que deixa frutos, discípulos. A sucessão ministerial é um dos maiores reflexos do verdadeiro vocacionado. Afinal, foi para isto que fomos chamados: “Ide, portanto, fazei discípulos” (Mt 28.19).
Basta olharmos para o mais notável de todos os apóstolos, Paulo e vermos sua dedicação em preparar discípulos para dar sequência ao ministério por ele iniciado, dos quais destacamos três:
1.       Envia Epafrodito à Filipos como seu “cooperador e companheiro de lutas” e como “mensageiro e auxiliar” daquela igreja (Fp 2.25);
2.       Deixa Tito na cidade de Creta e esclarece a razão desse proceder: “para que pusesses em ordem as cousas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi” (Tt 1.5).
3.       Designa Timóteo, seu Filho na fé a desenvolver com eficiência o ministério recebido apresentando-se “a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que meneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.15).
Além do mais, Paulo exorta seu futuro sucessor a colocar em prática o que havia aprendido com o objetivo de preparar outros sucessores para o ministério cristão: “e o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (1Tm 2.2).
Talvez seguindo a mesma orientação de Paulo a Timóteo foi que Clemente diz:
“Eis porque, absolutamente conscientes do porvir, deixaram estabelecidos os mencionados ministros, com a ordem de que, daí em diante falecidos estes, suceder-lhes-iam no seu ministério outros varões aprovados.”
Portanto, a luz do que compreendeu Clemente e seus mentores sobre o que é e como deve ser exercido o santo ministério, convém-nos despertar para uma verdade enfatizada por Jonh Piper quando diz: "estamos sendo massacrados pela profissionalização do ministério pastoral. A mentalidade do profissional não é a mentalidade do profeta. Não é a mentalidade do escravo de Cristo. O profissionalismo não tem nada que ver com a essência e o cerne do ministério cristão. Quanto mais profissionais desejamos ser, mais morte espiritual nós deixaremos em nosso rastro.
Referências
BETTENSON, Henry. Documentos da igreja cristã, São Paulo, ASTE, 2011.
TILLICH, Paul. História do pensamento cristão, 5ª ed. São Paulo, ASTE, 2015.
EWELL, Walter A. Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã, São Paulo, Vida Nova, 2009.
CESARÉIA, Eusébio de. História Eclesiástica, Rio de Janeiro, CPAD, 2009.
FERREIRA, Franklilin. A igreja cristã na história, das origens aos dias atuais, São Paulo, Vida Nova, 2013.


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