INTRODUÇÃO
Paulo foi um grande missionário porque foi um homem
estudioso, culto, erudito, amigo dos livros até nos últimos momentos de sua
vida. Leitor compulsivo, conhecia os clássicos gregos, tanto filósofos quanto
poetas. Sabemos também que foi autor de pena generosa e abundante — o que teria
sido da teologia cristã, não tivessem Paulo e seus discípulos nos deixado seu
legado por escrito? —. Para enfrentar o rigoroso inverno existencial, Paulo
abastece sua dispensa com livros, com palavras… não quaisquer palavras, mas
palavras boas, palavras inteligentes, palavras bem-ditas.
Esse pedido de Paulo lembra uma história sobre William
Tyndale, durante seu aprisionamento, pouco antes do seu martírio em 1536:
Uma capa mais quente, uma vela, um pedaço de pano para
remendar minhas polainas... Mas, acima de tudo, rogo e suplico sua clemência,
para que haja urgência junto ao Procurador, para que tenha a bondade de
permitir que eu receba minha Bíblia Hebraica, minha Gramática hebraica e
Dicionário de Hebraico, para que eu possa passar algum tempo estudando
(SANDERS, 1989, p.89).
Tanto Paulo como Tyndale passaram seus últimos dias,
antes do martírio, estudando seus pergaminhos. Nesse texto objetivamos levar o
nobre companheiro a compreender a necessidade vital de se dedicar a leitura
para que assim, possa “apresentar-se a Deus aprovado que não tem de que se
envergonhar que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm 2.16).
Todo o nosso foco será voltado para o apóstolo Paulo,
um dos homens mais cultos do cristianismo. Segundo o testemunho do próprio Deus:
“este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os
gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15).
A NECESSIDADE DO HÁBITO DA LEITURA
1. É responsabilidade do obreiro: “procura apresentar-te”;
Observando o chamado dos discípulos (Mt 10.1-4),
percebemos que é Deus quem nos salva; nos chama e nos concede o seu poder e
autoridade para exercermos o ministério. Porém, isso não nos isenta das
responsabilidades pessoais de buscar qualificações para sermos aprovados
perante Deus.
Basta seguir a leitura do texto (Mt 10.5-15) e observar
as instruções dadas pelo Mestre para aqueles a quem ele já havia chamado e
conferido poder e autoridade: “A estes
doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: não tomeis rumo aos
gentios, nem entreis em cidades de Samaritanos...” etc.
O próprio Paulo, “instrumento escolhido” por Deus
logrou êxito na busca pelo conhecimento, estimulando seu filho na fé, Timóteo a
fazer o mesmo: “E o que de minha parte ouvistes, transmite a homens fiéis e
também idôneos para instruir a outros” (2Tm 2.2). É responsabilidade do obreiro
buscar aprimoramento intelectual para cuidar do rebanho de Deus.
2. Deve ser suprida para satisfazer a Deus: “procura apresentar-te a Deus”;
Paulo exorta aos crentes de Corinto dizendo: “Portanto,
quer comais, quer bebais, ou façais outra coisa qualquer,
fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Toda a nossa busca pelo
conhecimento deve visar tão somente a glória daquele que nos chamou. Embora uma
genuína compreensão do texto sagrado e o exercício dos dons espirituais tenham
a finalidade de edificar o corpo de Cristo, a Igreja, o objetivo maior é que
essa edificação e aperfeiçoamento dos santos seja para que no fim, ser
apresentada a Deus como “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa
semelhante, porém santa e sem defeito.
Portanto, devemos buscar o conhecimento ou outra coisa
qualquer com a finalidade maior de promover a glória de Deus.
3. O objetivo essencial: “manejar bem a palavra da verdade”;
Por fim, só há uma forma de ser apresentado a Deus como
obreiro aprovado, manejando bem a palavra da verdade. Não é uma palavra ou
livro qualquer, é a suficiente exposição da verdade. Não há como manejar bem a
palavra da verdade sem auxilio de boas referencias que nos permitem entender
melhor as verdades bíblicas.
Comentários, gramáticas, notas de rodapé das Bíblias de
estudo não invalidam o agir do Espírito Santo e nem é uma forma de apaga-lo. Há
quem diga que “antes” os obreiros eram escolhidos por Deus e hoje é pelos
homens; que “antes” o conhecimento vinha de Deus e hoje é pela teologia; que
“antes” os obreiros eram capacitados pelo Espírito Santo assim como os
discípulos foram capacitados por Jesus. Analise as seguintes observações;
·
Jesus capacitou os discípulos dando-lhes poder e autoridade, certo. E
ele precisava, afinal, ele teria pouco tempo na terra e aqueles homens
ignorantes precisavam de algo sobrenatural para cumprir o chamado do Mestre;
·
Já que Jesus os capacitou, porque então ele precisaria de um intelectual
como Saulo de Tarso? Afinal, os discípulos não tinham o Espírito Santo? Sim,
mas para dar início à obra de evangelização. Para consolidar a obra, Deus
precisava de alguém já preparado espiritualmente e academicamente para expor as
verdade a igreja iniciada pelos discípulos.
·
“Antes” no início da AD no Brasil, imagine a região Norte e Nordeste há
cem anos. Uma igreja fundada por estrangeiros que pregaram o primeiro sermão
com um ano depois em língua portuguesa. O Espírito precisou agir de forma
sobrenatural para promover o avanço da obra.
·
Ainda hoje precisamos do agir do Espírito em nosso meio, do seu poder
nas nossas vidas, mas, diferente de cem anos atrás, hoje nossa membresia e
repleta de doutores e mestres, pessoas cultas que além do agir do espírito,
precisam ouvir pessoas sábias em toda boa obra.
Uma razão muito atual para buscarmos desenvolver o
hábito da leitura, é exatamente a presença de pessoas “sábias” aos seus
próprios olhos que, além de não suportarem a sã doutrina, semeiam inverdades
entre os santos. Veja o que Paulo diz a Timóteo a respeito disto:
“Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina;
mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas
próprias concupiscências; E desviarão os
ouvidos da verdade, voltando às fábulas. Mas
tu, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre
o teu ministério” (2 Tm 4:3-5).
Para rebatermos os falsos ensinos precisamos conhecê-los para podermos
refutá-los. Basta darmos uma olhada no capítulo 15 da primeira carta aos Coríntios
que vemos Paulo refutando um falso ensino sobre a ressurreição. “Ora, se é
corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam
alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos?” (v.12).
A
IMPORTÂNCIA DO HÁBITO DA LEITURA
O pastor Altair Germano em sua obra, “O líder cristão e
o hábito de leitura”, extrai algumas importâncias desse hábito, usando como
referência o livro de Oswald Sanders, “Liderança Espiritual”:
1. Promove emancipação de ideias
A leitura é uma descoberta do mundo, precedida segundo
a imaginação e experiência individual. A falta desse hábito produz algum nível
de alienação parcial ou plena. Estar alienado é, não saber das coisas como as
coisas realmente são. Tal indivíduo não se importa com o que se passa no mundo
a sua volta. Alienação é se deixar levar sem ter opinião e sem saber o porque
das coisas.
2. Desenvolve o senso crítico;
Cada ser humano pode encontrar nos livros uma ajuda
para o seu próprio desenvolvimento, para construir o seu senso crítico. Senso
crítico é a capacidade que um indivíduo tem de criar sua própria opinião,
independentemente do conhecimento empírico. À medida em que se torna um leitor
crítico de textos e do mundo, o pastor se habilita para, com mais propriedade,
contextualizar a sua mensagem e serviço.
3. Enriquece o vocabulário e da linguagem;
A riqueza do vocabulário individual está diretamente
relacionada com o nível de educação e inteligência de uma pessoa.
4. Estimula a mente e desenvolve o intelecto;
Estimula novos pensamentos e ideias. O crescimento da
mente torna possível que as pessoas sirvam às gerações presentes. Se eu
desenvolvo minha mente, posso fazer com que os outros cresçam. Observe esta
verdade nas palavras de Paulo:
“Até a minha chegada, aplica-te a leitura, à exortação,
ao ensino [...] Medita nestas coisas e nelas sê diligente, para que o teu
progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de te mesmo e da doutrina.
Continua nestes deveres; porque fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como a
teus ouvintes” (1Tm 4.13-16).
Tanto Germano como Sanders sugerem ainda duas ultimas
importâncias essenciais da leitura que é adquirir informações e estar em
comunhão com grandes mentes. O obreiro precisa estar sempre bem informado. Como
exorta o apóstolo Pedro: “estando sempre preparados para responder a todo
aquele que vos pedir a razão da esperança que há vós” (1Pe 3.15).
Estar em comunhão com grandes mentes é ter inúmeras
referências/livros de grandes homens que nos ajudarão a ponderar textos
intrigantes e aparentemente controversos. Exemplos;
·
Obras da lei em Paulo e obras da fé em Tiago;
O auxilio de obras de grandes mentes são formidáveis
para a compreensão e transmissão da verdade. Um exemplo é que Paulo ensina a
Timóteo para que este ensine a outros homens para ensinarem a outros e assim
por diante (2Tm 2.2).
CONTRASTE ENTRE O BOM LEITOR E O MAU LEITOR
BOM LEITOR
|
MAU LEITOR
|
Ler rapidamente e conhece bem o
que lê
|
Lê vagarosamente e entende mal o
que lê
|
Ler com objetivo determinado
|
Ler sem finalidades
|
Avalia o que lê
|
Acredita em tudo o que lê
|
Possui bom vocabulário
|
Possui vocabulário limitado
|
Tem habilidade para conhecer o
valor do livro
|
Não possui nenhum critério
técnico para conhecer o valor do livro
|
Sabe quando deve ler o livro até
o fim e quando interromper definitivamente
|
Não sabe se decidir se é
conveniente ou não interromper uma leitura
|
Discute frequentemente o que lê
com colegas
|
Raramente discute o que lê com
os colegas
|
Adquire livros com frequência e
cuida de ter sua biblioteca particular
|
Não possui biblioteca particular
|
Lê assuntos variados
|
Está condicionado a ler a mesma
espécie de assuntos
|
Ler muito e gosta de ler. Lê
sempre que pode
|
Ler pouco e não gosta de ler
|
Tem dificuldade de emprestar
livros
|
Empresta e nunca toma
emprestado.
|
LIVROS QUE NÃO PODEM FALTAR A UM LÍDER CRISTÃO
LIVRO
|
AUTOR
|
EDITORA
|
Teologia Sistemática Pentecostal
|
Antonio Gilberto, Editor
|
CPAD
|
Teologia Sistemática, uma
perspectiva pentecostal
|
Stanley M. Horton
|
CPAD
|
Conhecendo as doutrinas da
Bíblia
|
Myer Pearlman
|
Vida
|
Doutrinas Bíblicas
|
Menzies e Horton
|
CPAD
|
Dons Espirituais
|
San Storms
|
Anno Domini
|
Dons Espirituais
|
Elinaldo Renovato
|
CPAD
|
Falar em línguas, o maior dom?
|
R.L. Brandt
|
CPAD
|
Rastros de Fogo
|
José Gonçalves
|
CPAD
|
O Batismo com Espírito Santo e
com fogo
|
Anthony D. Palma
|
CPAD
|
Verdades Pentecostais
|
Antonio Gilberto
|
CPAD
|
A existência e pessoa do
Espírito Santo
|
Severino Pedro da Silva
|
CPAD
|
A Bíblia através dos séculos
|
Antonio Gilberto
|
CPAD
|
Liderança espiritual
|
Oswald Sanders
|
Mundo Cristão
|
Administração Eclesiástica
|
Kesller e Câmara
|
CPAD
|
Seja um líder de verdade
|
Jonh Haggai
|
Betânia
|
O pastor aprovado
|
Richard Baxter
|
PES
|
O pastor e o seu ministério
|
Anisio Batista Dantas
|
CPAD
|
História Eclesiástica
|
Eusébio de Cesaréia
|
CPAD
|
A Igreja Cristã na história
|
Franklilin Ferreira
|
Vida Nova
|
Pregação Expositiva
|
Hernandes Dias Lopes
|
Hagnos
|
A supremacia de Deus na pregação
|
John Piper
|
Shedd
|
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Livros são como amigos, não
precisa ter muitos, apenas os melhores”;
“Meus livros são minhas
ferramentas. Também servem como meus conselheiros, minha consolação e meu conforto”
(Spurgeon);
“O homem que sabe ler, fala com os
ausentes e mantém vivos os que já morreram. Comunica-se com o universo - não
conhece o tédio - viaja - ilude-se. Mas quem lê e não sabe escrever é mudo” (Carlo Dossi).
“Apenas deveríamos ler os livros que nos picam e que nos
mordem. Se o livro que lemos não nos desperta como um murro no crânio, para que
lê-lo?” (Franz Kafka).
O homem que não lê bons livros não
tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe (Mark Twain).
“Ler é beber e comer. O
espírito que não lê emagrece como o corpo que não come” (Victor Hugo).
“O verdadeiro analfabeto é aquele que
sabe ler,
mas não lê” (Mario Quintana).
“Antes do interesse pela escrita, há
um outro: o interesse pela leitura. E mal vão as coisas quando só se pensa no
primeiro, se antes não se consolidou o gosto pelo segundo. Sem ler ninguém escreve” (José Saramago).
“Meus filhos terão computadores, sim,
mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão
incapazes de escrever - inclusive a sua própria história” (Bill Gates).
“Até a minha chegada, aplica-te à leitura, à exortação e ao
ensino” (Paulo, 1Tm 4.13).
“Bem aventurados aquele leem” (João, Ap 1.3).
“Quando
vieres, traze [...] os livros, especialmente os pergaminhos” (Paulo, 2Tm 4.13).
Referências Consultadas
GERMANO, Altair; O líder cristão e o hábito de leitura, 2011,
CPAD
SANDERS, J. Oswald; Liderança espiritual, 1989, Mundo Cristão
PIRES, Erik André de Nazaré; A importância do hábito da leitura na
universidade; Revista ACB: Florianópolis, v.17, n.2, p.365-381,
jul./dez., 2012
- Site: www.kdfrases.com
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