terça-feira, 15 de setembro de 2009

A EFICÁCIA DA GRAÇA NA VIDA CRISTÃ - II TIMÓTEO 2.1-6



INTRODUÇÃO:



O primeiro capítulo de II Timóteo termina com a pesarosa referência que Paulo fez à generalizada deserção dos cristãos na província romana da Ásia (1.15). Onesíforo e a sua casa talvez tenham sido a única exceção.


Agora Paulo insta com Timóteo para que ele se mantenha firme em meio à debandada geral. Esta é a primeira de uma série de exortações similares na carta, que começam com “tu, pois” ou “mas tu”, ordenando que Timóteo resista a varias coisas predominantes naquela época.


Timóteo fora chamado a exercer uma responsável liderança na Igreja, não somente a despeito de sua inata falta de confiança em si mesmo, mas ainda na mesma área onde a autoridade do apóstolo estava sendo repudiada. É como se Paulo lhe dissesse; “Não te importes com o que outras pessoas possam estar pensando, dizendo ou fazendo. Não te importes com a fraqueza e a timidez que talvez estejas sentindo. Quanto a ti, Timóteo, sê forte!”.


É claro que esta exortação, se tivesse parado aí, teria sido inútil, até mesmo absurda. Dizer a alguém tão tímido como Timóteo para ser forte seria o mesmo que mandar um caracol ser ligeiro ou exigir que um cavalo voasse. Mas o apelo de Paulo à firmeza tem um caráter cristão, não estóico. Não é uma exigência de que Timóteo seja forte em si mesmo, demonstrando isso rosnando e batendo no peito, mas de que seja fortalecido interiormente, ou seja, ser fortalecido na graça. Isto significa que Timóteo deve procurar recursos para o seu ministério não em sua própria natureza, mas em Cristo.


Não dependemos da graça somente para a salvação (1.9), mas também para o serviço.


Até aqui Timóteo foi exortado a conservar a fé e a guardar o depósito (1.13, 14). Contudo deve fazer mais do que preservar a verdade, deve passá-la adiante. Assim como a deslealdade da Igreja na Ásia tornava imperativo que Timóteo guardasse a verdade com a lealdade, assim também a iminente morte do apóstolo Paulo tornava imperativo que Timóteo tomasse providencias para legar a verdade intacta à geração seguinte.


Diante desse esclarecimento introdutório quanto a necessidade que Timóteo tinha de fortificar-se na graça, quero tão somente aplicar as motivações que induziram Paulo a dar tais exortações ao seu filho na fé. Paulo enfatizava aqui, que a graça além de salvadora, ela também tem sua eficácia no ministério, uma vez que um salvo pela graça desfruta do dom recebido de Deus para dar continuidade à obra do SENHOR aqui na terra.


Se Paulo motivara Timóteo a ter coragem e força tendo como fonte inesgotável, a graça que está em Cristo Jesus, certamente tal efeito refletira em nossas vidas e no progresso do nosso ministério e do chamado para o qual fomos chamados. E em meio as mesmas necessidades que tinha Timóteo, quero tomar por base estes seis versículos para refletir contigo sobre a eficácia da Graça na vida cristã;


1. NO ENSINO DA PALAVRA – v.2


“E as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas, confie-as a homens fiéis que sejam também capazes de ensinar outros.” V.2


Paulo induz a Timóteo fazer o mesmo que ele recebeu o ensino de Cristo, transmitiu a Timóteo, que Timóteo deveria transmitir a homens fiéis e por fim, que estes homens transmitissem a outros. Vemos aqui uma verdadeira sucessão apostólica.


Podemos identificar esta sucessão como os quatro estágios da transmissão da verdade; de Cristo para Paulo, de Paulo par Timóteo, de Timóteo para homens fiéis, e de homens fiéis a outros. Tal sucessão dependeria de homens, de uma série de homens fiéis, mas essa sucessão refere-se mais à mensagem em si do que aos homens que a ensinem.


Deve ser uma transmissão da doutrina dos apóstolos, deles recebida sem distorções pelas gerações posteriores, passada de mão em mão como uma tocha olímpica.


Esta é uma forma segura de fortalecer-se na graça, transmitindo a outros as verdades que se acham engastadas no coração e que estão guardadas na memória. De conformidade com isso, que Timóteo aja como mestre. Mais ainda, que produza mestres. Timóteo necessita dessa experiência, e o que é muito mais importante, a igreja necessita de mestres.


Paulo está para partir desta vida. Por muito tempo ele carregou a tocha do evangelho. Daqui em diante ele a põe nas mãos de Timóteo, o qual, por sua vez, deve passá-la a outros. O depósito que foi confiado a Timóteo (II Tm 1.14) deve ser depositado em mãos de homens aptos para ensinar a outros, de modo que esses outros também, tanto quanto seus mestres, sejam instruídos na verdade redentora de Deus.


Essa verdade redentora ou evangelho de salvação, que Timóteo deve transmitir, aqui é exposto como “as palavras que me ouviu dizer na presença de muitas testemunhas”. Esta expressão indubitavelmente se refere a toda a série de sermões e lições que o discípulo havia ouvido da boca de seu mestre durante o tempo em que esteve associado a ele desde o dia em que pela primeira vez se encontraram.


Muitos haviam sido testemunhas dessa pregação e ensino. Que Timóteo se lembre de que a mensagem que ouvira da boca de Paulo lhe fora entregue entre ou em meio a muitas testemunhas ou pessoas que estavam sempre dispostas a apoiar o testemunho do apóstolo.


Queridos, a tarefa de confiar o evangelho a homens de confiança significa trabalho árduo. Não obstante, quando um homem luta de todo o coração pela boa causa, compete segundo as normas e trabalha com energia, ele receberá uma gloriosa recompensa (vv.4-6). Que tenhamos esse mesmo sentimento e responsabilidade, na certeza de que as pessoas que ouvem de nós o ensino da palavra sejam realmente futuros sucessores da obra do Mestre produzindo sempre frutos, como resultado do trabalho comissionado por Jesus quando nos enviou a fazer discípulos.


2. NAS MILÍCIAS DA VIDA – v.3, 4


“Suporte comigo os meus sofrimentos, como um bom soldado de Cristo Jesus. Nenhum soldado se deixa envolver pelos negócios da vida civil, já que deseja agradar aquele que o alistou.” v. 3, 4


As experiências como prisioneiro deram a Paulo ampla oportunidade de observar os soldados romanos e de meditar no paralelo existente entre o soldado e o cristão. Em cartas anteriores, Paulo referiu-se à guerra com principados e potestades, na qual o cristão está envolvido; referiu-se à armadura que deve vestir e às armas que deve usar (Ef 6.10; I Tm 1.18; II Co 6.7).


Mas aqui o bom soldado de Jesus Cristo é assim chamado por ser um homem dedicado, que mostra sua dedicação por se achar sempre disposto a sofrer e estando permanentemente em guarda. E isso só se daria caso Timóteo tivesse com base de sua força e dedicação, a Graça de Cristo Jesus, fortificando-se nele, seria capaz de sofrer as árduas milícias enfrentadas por um soldado de Cristo.


Com esta exortação, Paulo estava ensinando a Timóteo que os soldados em serviço não contam com segurança e facilidade. Pelo contrário, dureza, riscos e sofrimento são aceitos com satisfação. É como Tertuliano expressou em seu livro “Palavra aos Mártires”; “Nenhum soldado vai à guerra cercado de luxúrias, nem vai à batalha deixando um quarto confortável, mas sim uma tenda estreita e provisória, em que há muita dureza, severidade e desconforto”.


De igual modo nós como cristãos não devemos esperar dias fáceis. Se formos fiéis ao evangelho, certamente experimentaremos oposição e escárnio. Nós devemos sofrer em conjunto, com os nossos companheiros de armas, e a nossa maior arma, é a graça de Deus.


O soldado deve se achar disposto a se concentrar no exército, e também a sofrer. Quando em serviço ativo, não deve se envolver em negócios da vida civil, ao contrario, liberta-se dos afazeres de natureza civil, a fim de dedicar-se às armas, satisfazendo assim aos seus oficiais superiores, ou estando inteiramente à disposição de seu oficial comandante.


Queridos, nós cristãos devemos viver neste mundo e não nos alienarmos dele, não podemos nos esquivar das comuns obrigações do nosso lar, de nosso local de trabalho e de nossa comodidade. Devemos tão somente estar consciente do nosso dever e de cumpri-los e não nos evadir deles. Nem devemos nos esquecer do que Paulo relembrou a Timóteo em sua primeira carta, ao dizer que “tudo o que Deus criou é bom e, recebido com ações de graça, nada é recusável...” e que “Deus tudo nos proporciona unicamente para nosso aprazimento”. Desfrutemos pois dessas bênçãos que Deus tem nos reservado se cumprirmos a nossa tarefa conforme nos foi confiada.


3. NOS DESAFIOS DA VIDA – v.5


“... nenhum atleta é coroado como vencedor, se não competir de acordo com as regras”.


Agora Paulo desvia os seus olhos da imagem do soldado romano para a do competidor nos jogos gregos. Em nenhuma competição atlética do mundo antigo, assim como hoje também o competidor dava uma demonstração de força ou de habilidade ao acaso. Cada esporte tinha as suas regras para a competição, e às vezes também para o treino preparatório.


Cada prova também tinha o seu prêmio, e os prêmios conferidos aos jogos gregos não eram medalhas de ouro ou troféus de prata, e sim coroas de ouro. Contudo nenhum atleta era “coroado” se não tivesse competido “de acordo com as regras”, mesmo que o seu desempenho tivesse sido brilhante. Fora do regulamento não há prêmio. Essa era a palavra de ordem.


A vida cristã é geralmente comparada, no Novo Testamento, a uma corrida, não no sentido de estarmos competindo uns com os outros, mas no sentido de que devemos nos desembaraçar de todo peso morto, e especialmente nesta passagem, no sentido de que devemos observar as regras.


O texto de Hebreus 12 no final do verso um diz; “... e corramos com perseverança a corrida que nos é proposta, 2 tendo os olhos fitos em Jesus...”.


Cristo morreu para nos dá vida, e cabe a nós preservarmos essa nova identidade que recebemos pelo sangue de Jesus que nos redimiu e nos justificou mediante, devemos tão somente nos fortificar nesta graça que nos é suficiente em meio aos desafios da vida tal como o espinho na carne de Paulo (II Co 12.7-9).


Devemos correr a corrida cristã segundo as leis. A despeito do estranho ensino da assim chamada “nova moral”, que insiste em que a lei foi abolida por Cristo, o cristão acha-se sob obrigação de viver “segundo a lei”, de guardar as regras, de obedecer às leis morais de Deus. De fato, ele não está “debaixo da lei”, como meio de salvação, que o aprova ou o recomenda perante Deus, antes ela lhe serve como guia de conduta. Ao invés de abolir a lei, Deus enviou seu Filho para morrer por nós “a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós”, e agora envia o seu Espírito para morar em nós e escrever a sua lei em nossos corações! (Rm 8.3 e 4; Jr 31.33). Além disso, não pode haver coroa de outro modo, não porque a nossa obediência à lei poderia nos justificar, mas sem a lei damos evidencia de nunca termos sido justificados.


Amados irmão não esqueçamos de que os prêmios pelo serviço cristão dependem da fidelidade. O mestre cristão deve ensinar a verdade, construindo com materiais sólidos sobre o fundamento que é Cristo, se quer que a sua obra permaneça e não seja consumida pelo fogo. Portanto, confie o seu “depósito” a homens fiéis para que no ultimo dia você possa receber o prêmio da tua soberana vocação em Cristo Jesus.


4. NAS LABUTAS DA VIDA – v.6


“O lavrador que trabalha arduamente deve ser o primeiro a participar dos frutos da colheita”.


Tendo o atleta de competir com honestidade, o lavrador, por sua vez, tem de trabalhar arduamente. O sucesso na lavoura só se é conseguido com muito trabalho. Isto é verdade particularmente em países em desenvolvimento, antes de se ter as técnicas da mecanização moderna. Em circunstancias, o sucesso da exploração agrícola depende tanto do suor como da habilidade.


Mesmo sendo o solo pobre, o tempo inclemente, ou estando o lavrador indisposto, este deve permanecer em seu trabalho. Uma vez posta a mão no arado, não há que olhar para trás. Ao contrário do soldado e do atleta, a vida do agricultor é totalmente desprovida de emoção, distante de toda fascinação decorrente do perigo e do aplauso.


Contudo, a primeira parte da colheita pertence ao lavrador que trabalha. É seu direito. A boa produção deve-se mais a seu esforço e perseverança do que a qualquer outro fator. É por isso mesmo que o preguiçoso jamais será um bom agricultor, como ressalta o livro de Provérbios. Ele sempre porá a perder a sua colheita, talvez por dormir quando deveria está colhendo, talvez por ter sido pouco ativo no lavrar a terra no outono anterior, ou talvez por permitir que os seus campos se cubram de urtigas e espinhos (Pv 10.5; 20.4; 24.30-31).


Mas, afinal, a que tipo de colheita se refere o apóstolo? Uma interpretação é a santidade como colheita. A santidade é o fruto do Espírito, sendo que o próprio Espírito é o principal agricultor, que produz uma boa safra de qualidades cristãs na vida do cristão. No entanto, nós também temos que fazer a nossa parte. Temos de andar no Espírito e semear no Espírito, seguindo os seus impulsos e disciplinando-nos, para fazermos a colheita da santidade. Será irmão, que estamos negligenciando o cultivo desse campo que é o nosso caráter? “Pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7).


Outra interpretação é que a conquista de conversões é também uma colheita. Nesta seara é claro que é Deus quem dá o crescimento, mas ainda assim não temos a liberdade de ficar à toa. Não só isso, mas tanto a semeadura da boa semente da Palavra Ed Deus como a colheita são trabalhos duros, especialmente quando há poucos semeadores. Com muito custo almas são ganhas para Cristo, não com a engenhosa e automática aplicação de uma fórmula, mas com lágrimas, suor e dores, e especialmente com oração e sacrifícios. Novamente o lavrador que trabalha é que pode esperar obter bons resultados.


Devemos fazer como Paulo, que se dava ao trabalho sem pensar no quanto isso lhe custava; lutava sem dar atenção às feridas; trabalhava sem procurar descansar; servia sem procurar pela recompensa, a não ser o gozo de fazer a vontade do seu SENHOR. E Deus fazia prosperar os seus esforços. O mesmo Ele fará por nós quando firmados na sua infinita graça, chegarmos ao tempo da colheita.


CONCLUSÃO:


Amados irmãos, a graça de Deus nos é suficiente para suprir todas as nossas necessidades como ministro de Cristo, capaz de nos instruir para transmitirmos as verdades dos ensinos apostólicos a outras pessoas fiéis, capaz de nos dá forças para enfrentarmos a árdua batalha da vida cristã como bom soldado de Cristo Jesus, de nos fortificar para termos vigor espiritual para competirmos os desafios da vida em Cristo e de nos revigorar em meios as dificuldades de semear a boa semente nos vários tipos de solo.


Somente a graça de Deus, pode nos revigorar para alimentarmos a nossa esperança de que dias melhores virão, de que as guerras serão vencidas, de que os obstáculos serão superados e de que o que semeamos será ceifado e nós, seremos os primeiros a desfrutar destes frutos, seja santidade ou sejam almas, o que importa é que tanto um como outro nos será de grande valia para darmos continuidade ao trabalho para o qual fomos comissionados.


O trabalho é árduo, mas deixo uma citação do Ver. Ryle que enfatiza repetidas vezes em seu notável livro Santidade; “Não há prêmio sem esforço”. Por exemplo;


“Jamais abandonarei a minha convicção de que não há progresso espiritual sem esforços. Não creio no sucesso de um agricultor que se contenta em apenas semear os seus campos, abandonando-os em seguida até a colheita, assim como não creio ser possível que um crente alcance muita santidade sem ser diligente em sua leitura da bíblica, em suas orações e no bom uso dos seus domingos. Nosso Deus é um Deus que se importa com os meios, e nunca abençoará a alma de quem se julga ser tão elevado e espiritual a ponto de achar que pode progredir sem eles”.


Amada Igreja, tão somente, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. AMÉM!?


Seminarista Járber SOUSA
Vargem Grande Paulista - SP
15 de setembro de 2009

Nenhum comentário:

Postar um comentário