“Tu, porém, tens seguido, de
perto, o meu ensino, procedimento, propósito, fé, longanimidade, amor,
perseverança [...] Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste
inteirado, sabendo de quem o aprendeste.” (2Tm 3.11,14).
Se você atendeu ao chamado de ensinar
em uma classe de EBD, você aceitou um nobre trabalho, porque este chamado traz
consigo o privilégio e a responsabilidade de cooperar com Deus na formação do
caráter cristão, e no compartilhamento do conhecimento espiritual.
A educação cristã é uma poderosa
ferramenta à disposição do povo de Deus. Sua proposta se caracteriza pela
formação integral do ser humano. Seu foco reside no desenvolvimento de todas as
áreas da vida da pessoa, incluindo os aspectos físicos, emocionais, intelectuais,
sociais e espirituais.
Nesse texto o nosso interesse é
apresentar uma abordagem bíblica sobre a arte de educar, principal trabalho do
educador cristão. Não pretendemos desconsiderar ou diminuir a figura
do professor, mas diferenciá-lo dos educadores. Sendo os dois, tanto
professores como educadores, fundamentais para o desenvolvimento intelectual da
sociedade.
Para um melhor aproveitamento,
precisamos compreender alguns diferenças básicas entre alguns termos
relacionados a educação:
Ensinar e educar: Ensinar
pode se resumir em transmitir informações; enquanto que, educar vai mais além,
é aplicar na vida o que aprendeu demonstrar que não somente aprendeu verdade
ensinada, mas foi educado pela mesma ao ponto de aplica-la na vida diária.
Professor
e Educador: Muitas pessoas não distinguem os termos “professor” e “educador” e acabam por confundi-los ou tratá-los como sinônimos. Na
verdade, há uma diferença entre esses dois termos. Enquanto um se refere ao
profissional responsável pela instrução eficiente do aluno, o outro, além de
ser profissional, é vocacionado e tem como responsabilidade a formação integral
do seu aprendiz. O dicionário Aurélio, de Língua Portuguesa, define professor
como “aquele que professa ou ensina uma
ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina” Já o termo educador,
que tem origem do vocábulo latim “educatore”, é definido como “aquele que educa”.
Diferenciando professor
instrutor do professor educador
·
O professor instrutor
superestima o quantitativo, o professor educador
realça a busca do qualitativo;
·
O professor instrutor
promove o ter; o professor instrutor promove
para o ser (Ex: ter uma habilitação e ser habilitado, alguém pode comprar uma
CNH, isso não a torna habilitada. Teve condições para adquirir de forma ilegal,
mas teve caráter para adquirir de forma adequada).
·
O professor instrutor
repete todo dia os mesmos cacoetes e recursos metodológicos, o professor educador reinventa permanentemente seus
procedimentos, renovando-se com o aprendizado vigoroso de cada experiência vivida.
·
O professor instrutor
considera-se detentor do saber, pronto e acabado. O professor educador concebe-se aprendiz inacabado,
sempre buscando aprender mais.
·
O professor instrutor
percorre os caminhos já feitos, mais fáceis e cômodos. O professor educador ousa as veredas ainda não
trilhadas, mais desafiantes e difíceis, inaugurando caminhos novos,
extraordinários.
·
O professor instrutor
dita conteúdos para que os alunos copiem e assimilem de modo reflexo. O
professor educador problematiza
conteúdos para que os alunos reflitam e compreendam criticamente.
·
O professor instrutor
reduz-se aos muros/muralhas da escola, da sala de aula. O professor educador transpõe esses limites traspassando
os horizontes expansivos do cotidiano da vida.
·
O professor instrutor
tende à intolerância e até ao abuso de poder, fala muito e quase não escuta. O
professor educador prima pelos
princípios da tolerância, da ética da solidariedade e da escuta sensível.
O educador Marcos Tuler afirma acertadamente que,
existem diferenças gritantes entre a figura do professor e do educador. O
professor tem a função de transmitir o seu conhecimento, enquanto o educador é
comprometido com a formação integral do ser humano e com a sua interação com a
família e a sociedade. O professor sai
de casa para mais um dia de aula, enquanto o educador busca formas para
promover a transformação do seu aluno. O professor vê no erro do aluno apenas
um erro enquanto o educador o vê como fase de transição no processo de
aprendizagem. O professor impõe seus
ideais como centro do conhecimento, enquanto o educador é um mediador da
relação ensino-aprendizagem.
1. A IDENTIDADE DO EDUCADOR
O pastor e educador Marcos Tuler nos apresenta
algumas analogias que nos fazem entender melhor qual a identidade do educador
cristão. Ele diz que:
“Professores
são como eucaliptos”: Eucaliptos
não se transformarão em jequitibás, a menos que em cada eucalipto haja um
jequitibá adormecido: os eucaliptos são árvores majestosas, bonitas, porém
absolutamente idênticas umas às outras, que podem ser substituídas com rapidez
sem problemas. Ficam todas enfileiradas em permanente posição de sentido,
preparadas para o corte e o lucro”.
Em contrapartida, em relação ao
educador ele diz:
“Educadores são como jequitibás”: Citando Ruben Alves
ele diz; “os eucaliptos são símbolos dos professores, que vivem no mundo da
organização, das instituições e das finanças. Os eucaliptos crescem depressa
para substituírem as velhas árvores seculares que ninguém viu nascer e nem
plantou. Aquelas árvores misteriosas que produzem sombras não penetradas,
desconhecidas, onde reside o silêncio nos lugares não visitados. Tais árvores
possuem até personalidade como dizem os antigos”. Os educadores são como
árvores velhas, como jequitibás, possuem um nome, uma face, uma história.
Educador não pode ser confundido com professor. Da mesma forma que jequitibás e
eucaliptos não são as mesmas árvores, não fornecem a mesma madeira.
Como enfatiza o grande educador Rubem Alves,
“professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor.
Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação. E toda vocação nasce de um
grande amor, de uma grande esperança”.
2.
AS RESPONSABILIDADES DO EDUCADOR CRISTÃO
Educar, dentro de uma
perspectiva cristã, exige um compromisso constante não apenas com a qualidade
de conteúdo, a eficácia de método educacional, mas, acima de tudo, com o
progresso do aluno em sua fé. Ajuda-lo a desenvolver todo o seu potencial e
talentos concedidos por Deus é primordialmente a meta a ser perseguida por todo
educador cristão.
De acordo com a cosmovisão
cristã, o alvo do educador não consiste apenas da transmissão de
conhecimento, mas requer
a esperança de uma transformação do aluno a ser operada pela
ação do Espírito Santo. A fim de atingir este objetivo, o educador cristão deve
atentar para um esforço sistemático em termos de exposições sequenciais e
interações contínuas com seus alunos, sempre buscando refletir em seu
procedimento as características de um discípulo de Cristo.
De acordo com o pastor e
educador Gilmar Chaves (2012, p.18), o trabalho do educador pode ser
representado, por exemplo, pela ação de um escultor que toma uma pedra, uma
madeira ou mármore ainda em estado bruto e sem forma. Contudo, por sua ação
planejada, começa o processo de extração do material informe, tirando partes
dele e lapidando-o de acordo com as intenções e o formato desejado em sua
mente. Há um formato no qual os filhos do Reino devem encaixar-se. A educação
cristã pretende ser, por meio do ensino bíblico, o instrumento para lapidar e
moldar o cristão ate que ele tome a forma desejada por Deus.
Essa verdade corresponde ao que
nos ensinou Paulo:
“Não vos
conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12.2).
Tratando de alguns aspectos do educador
o pastor Marcos Tuler diz que “Nenhum educador cristão deve fracassar diante da
tentação de apenas manter seus alunos informados a respeito da Bíblia e da
vontade de Deus. Antes deve torná-los, através da influência do próprio
exemplo, praticantes da Palavra e perseguidores da vontade divina”, e destaca
ainda algumas responsabilidades vitais do educador:
2.1.
Devem se dedicar ao ministério de ensino
Os chamados, enquanto ensinam,
sentem seus corações inflamarem pela atuação poderosa do Espírito Santo. Eles
amam intensamente sua missão. Têm dedicação em sua prática docente: “...se é ensinar, haja esmero ao ensino”
(Rm 12.7b). E o que significa esmero? Esmero significa integralidade de tempo
no ministério de ensino, ou seja, estar com a mente, o coração e a vida
totalmente voltados para esse mister. Ser ensinador cristão é diferente de
ocupar o cargo de professor. Envolve chamada específica e capacitação divina.
2.2. Devem
manter comunhão
real com Cristo
Isto significa que Cristo é, em
primeiro lugar, seu salvador pessoal, salvou-o de todo o pecado e é também
Senhor e dono da sua vida. Há professores que não têm certeza da própria
salvação, como poderão ensinar Soteriologia? Outros não oram, não leem a Bíblia
e não têm vida devocional. São técnicos! No magistério cristão, de nada adianta
ensinar o que não sente e não vive. O educador nunca ensinar aquilo que não
está disposto a obedecer.
2.3.
Devem seguir o exemplo de Cristo
A melhor maneira de unirmos as funções
de professor e educador é seguirmos o exemplo de Jesus. Ele foi, em seu
ministério terreno, o maior professor e pedagogo de todos os tempos; usou todos
os métodos didáticos disponíveis para ensinar: costumava, por exemplo, fazer
perguntas para induzir a audiência a dar a resposta correta que Ele buscava;
fazia indagações indiretas exigindo que seus discípulos comparassem,
examinassem, relembrassem e avaliassem todos os conteúdos; exemplificava com
parábolas, contava histórias e usava vários métodos criativos. Conforme
declarou LeBar, citado por Howard Hendricks no Manual de Ensino, CPAD, “Jesus
Cristo era o Mestre por excelência, porque ele mesmo encarnava perfeitamente a
verdade. […] Ele entendia perfeitamente seus discípulos, e usava métodos
perfeitos para mudar as pessoas individualmente e sabia como era a natureza
humana e o que havia genericamente no homem (Jo 2.24,25)”.
2.4.
Nunca deve cessar de aprender
Um autêntico educador, ao
contrário de certos professores que se sentem “donos do saber”, são humildes e
estão sempre dispostos a aprender. Ele não se esquece que o homem é um ser
educável e nunca se cansa de aprender. Aprendemos com os livros, com nossos
alunos, com as crianças, com os idosos, com os iletrados, enfim, aprendemos
enquanto ensinamos. Não há melhor maneira de aprender do que tentar ensinar
outra pessoa. O professor-educador deve estar atento a qualquer oportunidade de
aprender. Quando não souber uma resposta, é melhor ser honesto e dizer que não
sabe. A ausência do orgulho diante da realidade de “não saber”, facilita e
promove a aprendizagem.
2.5.
E por fim,
a maior responsabilidade de todas, é o dever de se manter fiel a Palavra de Deus
O compromisso do educador cristão é com
a verdade absoluta. Em um contexto onde a verdade é quase que universalmente
aceita como relativa e situacional, a educação cristã afirma a natureza
absoluta da verdade. Ao fazer isto, o educador cristão aponta para as
Escrituras Sagradas como a fonte dessa verdade. A importância da Bíblia para a
educação cristã consiste no fato de que ela é o registro e a revelação escrita
de Deus.
Ao manter a Bíblia como sua fonte de
autoridade final, o educador cristão não ignora os estudos contemporâneos nem
as necessidades de desenvolvimento do aprendiz. Pelo contrário, ele se sente
livre para investigar todos os campos do saber humano com a confiança de que
Deus é o autor de toda a verdade.
3.
AS RECOMPENSAS
DO EDUCADOR CRISTÃO.
Séculos antes de Jesus exercer seu ministério terreno,
profetizou Isaias: "Ele verá o fruto
do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo,
o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre
si." (Is 53.11).
Imagine Cristo, vindo ao mundo para buscar e salvar o que se
havia perdido (Lc 19.10), e depois vê-los como novas criaturas (2Co 5.17).
Agora imagine Paulo pedindo aos seus alunos: “Sede também
meus imitadores” (Fp 3.17; 1Co 4.16), e depois olhar para eles e afirmar: "E vós fostes feitos nossos imitadores,
e do Senhor, recebendo a palavra em muita tribulação, com gozo do Espírito
Santo."
(I Ts 1.6).
O mesmo Paulo que educou a Timóteo dizendo que
se era modelo para os santos (1Tm 1.16), roga a Timóteo que também se torne um
modelo para os fiéis (1Tm 4.12), reconhece posteriormente que Timóteo foi tão
bem educado (2Tm 3.10) e que seria a pessoa ideal para dar continuidade a sua
tarefa de ensino (2Tm 4.2-5).
Certamente não há recompensa maior do que ver o fruto do
nosso trabalho.
Será se Cristo pode olhar para nós, e analisando a nosso
ministério de ensino ele pode ficar satisfeito e dizer que valeu a pena morrer
por nós? Será se nós estamos fazendo valer a pena a razão para a qual fomos
conquistados, a perfeição?
“Não que já a tenha alcançado, ou que
seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso
por Cristo Jesus. Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma
coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para
as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus” (3.12-14).
A nossa recompensa aqui na terra é ver a transformação na
vida dos que nos ouvem, gerada pelo ensino da palavra de Deus. Ao findar a
nossa lida aqui, temos da parte da parte de Deus uma recompensa eterna no céu:
“Combati o bom combate,
acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está
guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a
mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2Tm4.7,8).
Que Deus nos abençoe!
Pr. Járber Sousa
Material preparado para o Seminário Regional da EBD em Bacabal-MA
Referências:
CHAVES, Gilmar Vieira; Educação
Cristã, uma jornada para toda vida. Central
Góspel, 2012.
HENDRICKS, Howard; Ensinando para
transformar vidas. Betânia, 1991.
PEARLMAN, Myer; Ensinando com êxito
na Escola Dominical. Vida, 1995.
TULER, Marcos; Recursos didáticos para a Escola Dominical. CPAD, 2011.