“E a vós outros, que estáveis
mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu
vida, juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito
de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era
prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz”
(vv.13,14).
INTRODUÇÃO
A redenção é vista nas
Escrituras de várias formas, em quase todas elas o elemento jurídico está
presente:
·
Na vara criminal nós somos acusados e
por isso, somos punidos com a morte;
·
Na esfera familiar, somos adotados na
família de Deus;
·
Na esfera comercial, fomos comprados
pelo sangue de Cristo;
·
Na esfera judicial, fomos justificados;
Existem coisas que Deus
faz em nós. Coisas que ele opera dentro de nós:
·
Quando nos regenera, coloca vida dentro
de nós ele nos vivifica;
·
Quando nos santifica, nos purifica, ele
nos lava, nos desentope de toda mancha;
Existem coisas que Deus
faz por nós, ou no lugar de nós. Deus só faz em nós, depois que primeiro ele
faz por nós. Um exemplo é esse escrito de dívida que foi cancelado. Foi feito
no tribunal divino, fora de nós e por nós, e é sobre isso que queremos meditar.
A melhor maneira de
compreendermos este assunto é voltarmos no tempo e lembrar o tempo da venda,
quitanda ou barraca em que comprávamos fiado e a conta era colocada na
caderneta. A palavra grega para escrito é “hierografon”
que é um escrito de débito escrito pela própria mão. Paulo dá-nos a ideia de
que todos os nossos delitos são colocados dia a dia na caderneta de Deus,
fazendo dele o nosso credor.
Outra coisa relevante é
que este escrito de dívida é assinado por nossas próprias mãos, nós nos
responsabilizamos a pagar o valor total em uma determinada data. Esse escrito é
o equivalente a nossa nota promissória hoje. Nós nos endividamos e ainda nos
responsabilizamos a pagar com a nossa assinatura.
Essa verdade é ensinada
por Paulo na carta a Filemon quando ele envia Onésimo, um escravo fugitivo ao seu
senhor, agora convertido e se compromete a pagar qualquer dívida daquele
escravo dizendo; “se algum dano te fez ou
se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta. Eu, Paulo, de próprio
punho, o escrevo: Eu pagarei.” (Fl 18,19).
Hoje nós vamos aprender
que a nossa conta, a nota promissória que constava os nossos débitos, Jesus
falou, eu pagarei. Ele assinou em baixo que a dívida é dele. É por isso que a
salvação é oferecida gratuitamente, mas ela custa caro. Nós não pagamos, mas
Deus recebe.
1.
QUAL O CONTEÚDO E O VOLUME DA NOTA PROMISSÓRIA?
O
conteúdo constava de ordenanças. A terminologia grega
para ordenanças equivale a dogma, decreto, mandamentos. Diz respeito às leis
múltiplas de Deus que estão sumariadas nos dez mandamentos, este é o volume da
nota. A lei não se restringe ao decálogo, ela continha muitas regras de
natureza cerimonial, com referencias a jejum, festas, comidas, ofertas, etc. Tá
lá escrito, você é transgressor disto e disto. Ela nos mostra que somos
infratores. Só podemos entender a grande salvação se entendermos quão grande é
o nosso débito. A nossa conta era impagável.
O
escrito era contra nós e nos era prejudicial. Na compra
fiado, se nós não pagássemos no mês proposto, no mês seguinte não poderíamos
comprar. A lei é boa. Deus estabeleceu a lei para que houvesse ordem não
somente dentro de nós, mas também fora de nós. Esta lei que é justa, santa e
boa (Rm 7.12). Foi dada para nos dar vida se tornou em morte, ameaça de morte
para nós. Ela nos acusa porque somos maus, somos transgressores, por isso não
podemos nos fiar à lei porque ela é contra nós.
A diferença é que na
lei dos homens é possível você ser um transgressor de alguma parte dela. Mas na
lei de Deus, se você tropeça em um, você se torna transgressor de toda a lei.
Para agradar a Deus é necessário que o cumprimento seja perfeito. Logo, essa
lei que nos foi dada não nos ajuda pelo fato de não a podermos cumprir e por
causa disso, ela se torna nossa inimiga.
James Boice diz assim;
visto que somos violadores da lei, a lei é nossa inimiga e permanece em
oposição a nós. A lista das leis de Deus é também uma lista de nossos pecados e
cada uma das ordenanças de Deus é outro lembrete de que temos pecado contra um
Deus santo, assim, é uma nota promissória assinada manualmente que a Bíblia tem
em mente quando fala do escrito de dívida. Ela é um registro do débito infinito
que devemos a Deus porque temos quebrado a sua lei.
Essa situação não deve
ser motivo para irmos contra a lei de Deus. Devemos brigar conosco mesmos, pois
nós é que somos transgressores. Paulo enfrentou esse dilema quando não
compreendeu a razão pela qual não conseguia fazer o bem, mas o mau que não
queria (Rm 7.15-25).
2.
O NOSSO DÉBITO FOI CANCELADO
Quem cancela é o
próprio Deus, o justo juiz que cancelou e perdoou a nossa dívida. Já
mencionamos que a salvação é de graça. Na verdade ela custou muito, mas muito
caro. Ela é de graça porque nós não pagamos. A nossa redenção é na verdade
tamanha que homem nenhum pode pagá-la.
Nós não devemos
confundir perdão com anistia. Anistia é ignorar penalidade. Deus não ignora
penalidade. Deus perdoa penalidade, e perdoa porque alguém paga.
Quando nós pecamos ou
ofendemos alguém, nós colocamos esta pessoa na posição de ter que nos perdoar,
mesmo que não façamos nada para termos o perdão. A pessoa tem o dever de nos
perdoar. E perdoar é exatamente isto, assumir a dívida, o prejuízo.
Não vamos nos confundir
achando que por Deus ser bom, ele enviaria tudo de graça. Não! A GRAÇA FOI ELE ENVIAR O PAGADOR
PARA ACERTAR A NOSSA CONTA. Deus não poderia deixar de cobrar
a nossa dívida, a nossa nota promissória porque ele estaria negando a si
próprio. Um Deus santo tem que ser justo, e sendo justo está na obrigação dele
próprio aplicar a penalidade.
Deus resolveu cancelar
o juízo sobre nós, e a maneira que ele encontrou foi o de lançar este juízo
sobre outra pessoa, Jesus Cristo (Is 53). Ele mandou uma pessoa de si mesmo
para ajustar essa conta. Isto é o Evangelho!
3.
O NOSSO DÉBITO FOI REMOVIDO INTEIRAMENTE
Em outra palavra, esta
nota foi retirada da mão do credor. Jesus o Filho pagador da conta agiu assim; dá aqui Pai essa nota, eu paguei e o Senhor
não pode mais punir ninguém por causa dessa nota. É claro que esta forma
que usei é apenas para você entender esse ato de amor, Jesus não falou assim
desaforadamente. Esta nota não está mais na mão de Deus fazendo-o lembrar de
que somos devedores da pena, ele nos perdoou.
Mesmo ele tendo nos
perdoado um dia nós vamos morrer:
·
Mas esta morte não é mais como um
salário do pecado, como uma punição.
·
A morte que vamos morrer não é mais uma
inimiga nossa.
·
Não é mais um castigo por causa dos
nossos pecados.
·
A morte que vamos morrer não é mais uma
dívida que temos que pagar, Cristo morreu e pagou por nós.
Nesse caso, a morte
será uma amiga nossa que nos levará ao seio do Pai para um lugar de paz, sem
dor nem lágrimas. A morte não será mais o fim, mas o início de uma vida eterna
e perfeita com o Senhor.
4.
O PARADEIRO DA NOTA PROMISSÓRIA;
Quando os romanos
crucificavam o criminoso eles listavam seu crime num pedaço de papel e o
pregavam na sua cruz como o seu certificado de morte. Cristo removeu o
certificado manuscrito de nossa dívida e o pregou na cruz quando ele perdoou
todos os nossos pecados.
O texto diz que Jesus encravou na cruz. É na cruz que a conta é
paga. É como se estivesse umas notas anexadas na cruz e você olhar para ela e
dizer; aquela conta era minha.
Sempre ouvimos e
falamos que Deus não se lembra dos nossos pecados. O que significa que Deus se
esqueceu dos nossos pecados? Não é que ele apaga da sua memória. Ele olha para
nós e sabe de todos os nossos pecados. E nós também sempre nos lembramos do que
nós fomos um dia. A questão é que Deus não joga nada na nossa cara, não levanta
nenhuma acusação contra nós porque a conta já foi paga.
Veja só como Deus não
se esquece dos nossos pecados como nós pensamos;
·
Quando
Cristo ressuscitou, apareceu com as marcas dos cravos nas
mãos e do corte da lança no seu lado (Jo 20.20,27).
·
Em
Apocalipse quando João faz a sua dedicatória às
sete igrejas da Ásia, ele se apresenta como sendo da “parte de Jesus Cristo [...] àquele que nos ama, e, pelo seu sangue nos
libertou dos nossos pecados” (Ap 1.4-6).
·
Ainda
na visão de Jesus glorificado quando João cai diante
dele como morto, ouve a voz que dizia assim: “Não temas; eu sou o primeiro e o último, estive morto, mas eis que
estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno.” (Ap
1.17,18).
·
Na
celebração da última ceia com os discípulos Jesus disse
assim; “e digo-vos que, desta hora em
diante, não beberei deste fruto da videira, até aquele dia em que o hei de
beber, novo, convosco no reino de meu Pai” (Mt 26.29). A santa ceia que
vamos participar lá na glória celestial é uma amostra clara de que Deus não se
esquece do que fizemos e nem nós podemos nos esquecer. Porque se os pecados
fossem apagados da nossa mente não faria sentido o que Cristo fez por nós no
passado. Então, o que Deus vai fazer é que nos lembremos a cada dia o que nós
fizemos aqui, sem dor, sem mágoa, mas felizes porque será a lembrança de um
débito quitado por Jesus.
·
E
lá no céu quando nos lembrarmos do que éramos e do que ele fez
por nós, vamos cantar;
“Digno és de tomar o livro e de
abrir-lhe os selos, porque foste morto e
com o teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua,
povo e nação.” E as miríades celestiais vão confirmar
dizendo: “Digno é o cordeiro que foi
morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força...” (Ap 5.9-12).
·
Quando
João teve a visão dos glorificados com vestiduras brancas
diante do Cordeiro elas cantavam: “Ao
nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro pertence a salvação.” E
novamente, todos os anjos em volta do trono com os anciãos com os quatro seres
viventes concordaram dizendo: Amém! O
louvor, e a glória, e a sabedoria, e as ações de graças sejam ao nosso Deus
pelos séculos dos séculos. Amém!”(Ap 7.10-12).
Deus não se esquece dos
nossos delitos como pensamos. Ele lembra que eles foram assumidos por seu Filho
na cruz. Quando falamos que Deus se esquece dos nossos pecados estamos dizendo
que ele não lança mais em nossa conta a pena que deveríamos pagar.
CONCLUSÃO
“E a vós outros que estáveis mortos pelas vossas
transgressões, vos deu vida com ele, perdoando todos os nossos delitos.”
Trocando em miúdos esse
texto, nós não devemos mais nada. E como é bom não devermos mais, isto nos trás
tranquilidade, descanso para a nossa alma. O pagamento dessa dívida produz
satisfação. Quando o Filho disse; Pai, está
consumado, O Pai ficou satisfeito.
Pr.
Járber Sousa
Ministrado na AD
em Presidente Dutra-MA
Em 13 de abril
de 14