INTRODUÇÃO
A
educação como processo de formação do indivíduo existe bem antes da origem do
povo hebreu (descendentes de Héber, semita – Gn 10.21,25).
Chaplin
nos informa que sistemas primitivos de educação se desenvolveram já desde o
terceiro milênio a.C. Há manuais de ensino que remontam até 2500 a.C. Na antiga
Suméria havia numerosas escolas para escribas onde se ensinava religião, vida
palaciana e negócios do estado[1].
Mais
adiante, Champlin ressalta ainda que nas escolas da antiguidade, a relação
entre professor e aluno, era vista como sendo uma relação entre pai e filho. Paralelos a esse tipo de
sistema são encontrado em todo o Antigo Testamento, embora, as escolas formais
(como a dos profetas) tenham sido posterior, ao período da monarquia.
Vejamos
alguns exemplos:
· Samuel, desde pequeno foi educado sob
a supervisão de Eli, o sacerdote.
· Havia uma classe de escribas em
Israel, assim como no Egito.
· Moisés, foi educado no Egito, por sua
mãe (Êx 2.9,10), e pelo estado (At 2.22).
· Mesmo no Israel (Judá) pós-exílio,
haviam classes de educadores como os sacerdotes e escribas, todos versados na
Lei (Ed 7.6,10; Ne 8.9,13).
Todo
esse sistema havia entres os povos antigos (Babilônios, Sumérios, Egípcios)
sacerdotes e escribas, responsáveis pela educação religiosa e moral do seu
tempo.
Nosso foco, é educação cristã, uma vez que
começaremos pelo AT, as ideias de “cristã” é desconhecida, afinal, Cristo ainda
não tinha sido revelado por meio da encarnação. Porém, a essência da educação
cristã, é encontrada na educação do povo hebreu, uma vez que, tem origem em
Deus.
Vejamos
alguns conceitos que nortearão a nossa compreensão sobre o assunto:
1 – CONCEITUANDO EDUCAÇÃO
1.1. Educação (geral ou secular): é o
desenvolvimento e o cultivo sistemático das capacidades naturais, por meio do
ensino e da prática. Inclui tanto o conhecimento teórico quanto a experiência
prática. No desenvolvimento de habilidades diversas[2]. No seu sentido mais amplo, educação significa
o meio em que os hábitos, costumes e valores de uma comunidade são transferidos
de uma geração para a geração seguinte.
1.2. Educação Religiosa: Como o próprio nome sugere, Ensino
Religioso é o ensino da religião, ou seja, o ensinamento dos dogmas e doutrinas
de dada orientação religiosa. O ensino religioso consiste em uma disciplina da
educação básica brasileira, onde seu objetivo principal é propor reflexões
sobre fundamentos, costumes e valores das várias religiões existentes na
sociedade.
1.3. Educação Cristã: Pode-se defini-la como sendo a educação segundo Cristo. E para entendermos
os fundamentos da educação segundo Cristo, precisamos atentar para outros
conceitos:
a)
É um processo de ensino e aprendizado baseado na Bíblia, no poder do
Espírito Santo (centrado em Cristo).
b)
É a recriação e o desenvolvimento do verdadeiro relacionamento entre Deus
e o homem, o homem com os outros seres humanos, e o ser humano e o universo.
c)
É o processo divinamente instigado e humanamente cooperativo por meio do
qual as pessoas crescem e se desenvolvem na vida, ou seja, no conhecimento
piedoso, na fé, na esperança e no amor em Cristo[3].
Portanto,
a educação cristã é especificamente a educação fundamentada na Bíblia Sagrada.
Cremos que ela é a Palavra de Deus, única revelação escrita de Deus dada pelo
Espírito Santo, escrita para a humanidade e que o Senhor Jesus Cristo chamou as
Escrituras Sagradas de a “Palavra de Deus” (Mc 7.13), e que os livros da Bíblia
foram produzidos sob inspiração divina[4].
Crendo
assim, podemos encontrar nas divisões da Bíblia (Antigo e Novo Testamento) os
objetivos fundamentais da educação cristã.
2 – OS OBJETIVOS ESPECÍFICOS DA
EDUCAÇÃO BÍBLICA
Na
educação secular, se ensina para ter (in) formação, na educação bíblica cristã,
se ensina para ser cristão (parecido, conforme Cristo. Para isto, apresentamos
três objetivos básicos dessa forma de educar:
3.1. O primeiro é informar: tem a ver com conteúdo a ser transmitido.
3.2. O segundo é formar: tem a ver com o caráter, resultado do conteúdo assimilado.
3.3. O terceiro é transformar: Aqui tem a ver com mudança
percebida, sentida, avaliada positivamente. Se o informar é início, o formar
é meio e o transformar fim ou
produto final.
A metamorfose só acontece a partir da informação e da
formação. As pessoas são transfiguradas pelo conhecimento experimentado ao
longo da vida. Sabemos que a mudança deve ser sempre avaliada e aperfeiçoada. O
produto da informação e da formação nunca é acabado, mas sempre aperfeiçoado. O
caráter de Cristo a partir do ensino da Palavra vai sendo formado trazendo
transformação do ser cristão[5].
3 – A EDUCAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
Podemos
perceber claramente os objetivos acima ao longo de todo o AT. Toda informação
dada por Deus ou por que ele designa, visa a formação do caráter do ouvinte,
para que este, seja conformado (transformado) segundo a vontade divina.
No Éden, mesmo em um estado de perfeição
natural, o primeiro casal não foi criado com todo o conhecimento relacionado à
Deus, sendo Ele (Deus) incompreensível na sua totalidade. Essa limitação de
conhecimento não configurava um defeito de criação, mas, uma necessidade
natural de crescimento constante. Muitas foram as informações recebidas por
Deus:
· A ordem para comer de toda árvore do
jardim, exceto a do conhecimento do bem e do mal (Gn 2.16,17).
· A liberdade de nomear todos os
animais (Gn 2.19).
· Até então, o homem não conhecia o
prazer de uma companhia, até que se depara com a mulher, dada por Deus (Gn
2.18,23).
Pazmiño
(2008, p. 135) observa que, o ensino do Antigo Testamento incluía instrução e
admoestação. A instrução envolvia a informação das verdades e exigências de
Deus às pessoas; a admoestação era desafiar as pessoas quanto a seu modo de
viver. O propósito da educação nos relatos do Antigo testamento era de
santidade e transformação. As pessoas deveriam ser treinadas no caminho de Deus
e o foco era no caráter piedoso e na sabedoria que resultariam em ação moral.
O principal contexto da educação era
o lar, e os pais
eram os responsáveis por instruir os filhos na lei, conduzi-los ao casamento e
ensinar-lhes um ofício.
·
Deus
foi o primeiro a ensinar seus filhos Adão e Eva o ofício de cuidar da terra (Gn
2.15,18), e a prática do sacrifício para perdão de pecados (Gn 3.21).
·
Adão
e Eva ensinaram um ofício aos seus filhos, Abel era pastor de ovelhas e Caim,
lavrador (Gn 4.2), e certamente, os ensinaram a prática de sacrifícios para
remissão de pecados (Gn 4.3-7).
·
Mais
adiantes, vemos os descendentes de Caim desenvolvendo habilidades específicas
como;
ü Jabal, pai de todos os que habitam em tendas e possuem gado (Gn 4.20).
ü Jubal, pai de todos os que tocam harpa e flauta (Gn 4.21).
ü Tubalcaim, artífice de todo instrumento cortante, de bronze e de ferro
(Gn 4.22).
· A partir de Enos, filho de Sete,
percebemos um retorno à prática da adoração, negligenciada pelos descendentes
de Caim, como a prática de sacrifícios, que veio a ser praticada como parte da
“invocação ao Senhor” (Gn 4.26). Dessa linhagem, surgem homem piedosos como
Enoque, Metusalém, Lameque e Noé.
Por uma
questão de espaço e tempo, todo o AT contém vastas informações a respeito do
sistema educacional entre os hebreus. Uma informação valiosa é o processo de
desenvolvimento dos professores ao longo do tempo:
Em todo o Pentateuco a responsabilidade de educar está
sobre os pais, o ambiente é o lar e o conteúdo é a Lei.
Nos Históricos (Josué
à Ester): a educação era mantida pelas narrativas dos feitos salvíficos de
Deus na história do seu povo. Atos salvíficos, quando o povo obedecia, e atos
disciplinas, resultantes da desobediência da nação.
Na Poesia ou Literatura de Sabedoria
(Jó à Cânticos):
algumas pessoas eram dotadas por Deus com o dom da sabedoria, que tinham o
propósito de aconselhar visando uma vida bem sucedida. A sabedoria bíblica é
tanto religiosa como prática, e provém do temor do Senhor (Jó 28.28; Sl 11.10;
Pv. 1.7; 9.10)[6].
Na profecia (Isaías à Malaquias): os profetas eram educadores sociais
de seus tempos que chamavam o povo, seus líderes e as nações, a prestar contas
de seus caminhos. Expressavam a paixão de Deus por justiça e retidão na terra.
A tradição profética sugere a necessidade de educadores cristãos enfrentarem as
implicações sociais, políticas e econômicas dos compromissos de fé[7].
Em
Deuteronômio temos o padrão de educação que permeia todas as épocas do Antigo
Testamento:
Estes, pois, são os
mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR vosso Deus para
ensinar-vos, para que os cumprísseis na terra a que passais a possuir; Para que
temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que
eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua
vida, e que teus dias sejam prolongados. (Dt 6.1,2 – ACF)
Somente
nesses dois versos encontramos o conteúdo, o professor, o objetivo,
o aluno,
o
ambiente e o tempo (duração) do ensino:
EDUCAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO (Foco sobre os agentes
educativos)
POVO/NAÇÃO
|
PROFETA
|
SACERDOTE
|
SÁBIO
|
ESCRIBA-MESTRE/RABINO
|
|
PROPÓSITO
|
Libertação
Popular
|
Realização da
libertação
|
Transmissão da
tradição
|
Uma vida
melhor
|
Interpretação
das Sagradas ‘Escrituras (Ed 7.6,10)
|
CONTEÚDO
|
Eventos
históricos
|
Perspectivas
históricas antecipatórias
|
Práticas
religiosas
Leis
|
Conselhos para
a vida diária
|
Comentários
teológicos
|
MÉTODO
|
Memória
Cultura
popular
|
Palavra
Atos
simbólicos
|
A Torá:
celebração, transmissão, explicação e aplicação
|
Sabedoria
popular
|
Instrução
|
INSTITUIÇÃO
|
Nação
Comunidade
|
Escolas de
profetas
|
Templo
|
Ocasionalmente,
a corte do rei, rainha
|
Sinagoga
|
5 – A EDUCAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO
No NT
temos um método divino mais valioso de ensino, o próprio Deus encarnado se
torna o exemplo visível de “como se faz
para ser”. O apóstolo João enfatiza esta verdade ao observar que: “o Verbo
se fez carne e habitou entre nós,
cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do
Pai.” (Jo 1.14).
Na
vocação dos 12 apóstolos, Marcos (3.13-15) nos apresenta alguns detalhes
importantes no processo de educação destes:
· Ambiente de
ensino: o monte.
· Critério do
chamamento: os que ele mesmo quis.
· Método de
ensino: estando (aprenderem) com ele.
· Propósito do chamamento: exercer autoridade.
A
autoridade de quem ensina exerce um papel importante na vida de quem ouve.
Jesus deu aos apóstolos, a autoridade que ele mesmo exercia quando ensinava. Ao
findar o sermão da Montanha (Mt 5 – 7) tratando sobre inúmeros assuntos
relacionados à vida segundo Cristo, o resultado foi que: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões
maravilhadas da sua doutrina; porque eles as ensinava como quem tem autoridade
e não como os escribas” (Mt 7.28,29).
Foi com
essa mesma autoridade que os apóstolos deram prosseguimento à Igreja de Cristo
ensinando a ela, o que de Cristo haviam aprendido.
João fez uso dessa autoridade ao informar
que Jesus havia feito muitos outros milagres “diante dos discípulos” com o objetivo de levar os ouvintes a ‘crerem,
e com isto, terem vida eterna (Jo 20.30,31).
Pedro, com esta autoridade tem um papel
importante no livro de Atos:
· Primeiro “levantou-se Pedro no meio dos irmãos” para sugerir a substituição
de Judas. Porém, esta substituição tinha um critério, o substituto deveria
estar os acompanhando todo o tempo, desde que jesus estava entre eles (At
1.15,21).
· Segundo “se levantou Pedro, com os onze” para defender a causa do
Pentecostes, fundamentado nas Escrituras (Antigo Testamento) levou quase “três mil pessoas” à conversão (At
2.14-36).
· Terceiro “Pedro e João” (At 3.1,4,11) com autoridade curam um coxo,
discursam no Templo, e antes de serem presos, levam muitos dos que ouviram a
palavra a aceitarem-na, “subindo o número
de homens a quase cinco mil” (At 4.4).
Os primeiros cristãos iniciaram a vida cristã “perseverando na doutrina dos apóstolos”,
que os faziam mudar de vida praticando a oração e o amor fraternal, resultando
em admiração nas pessoas de fora, que não eram da igreja, que, devido à
percepção da mudança de vida dos cristãos, passavam também a crer e serem
salvos (At 42-47).
Temos
em Paulo, um educador por
excelência. Temos em todas as suas cartas, ensinos que visam corrigir os erros,
exortar ao abandono do pecado e ao viver em santidade. Nas cartas pastorais
(Timóteo e Tito) temos orientações de como serem educadores, pastores, mestre
do rebanho de Cristo.
Nas Cartas Gerais (Tiago, Pedro, João,
Judas) percebe-se o cuidado com a igreja e forma determinada em que condenam
falsos ensinos vindos de falsos mestres.
Em Apocalipse, percebe-se p cuidado de
Cristo com a sua igreja, representada pelas sete igrejas da Ásia, ao chama-las
ao arrependimento, exortando-as a darem ouvidos ao que o Espírito, através de
João (professor, pastor, mestre) diz às igrejas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Professores
e alunos são chamados não serem conformados com o mundo, e isso, só
é possível através da transformação resultante da renovação
da mente.
Todos os personagens da Bíblia, a começar de adão, que
optaram por serem conformados com o que é contrário ao que ensinou o Senhor,
caíram em deformação moral e espiritual. Mas, ao longo da História, Deus tem
preservado homens e mulheres leais ao conteúdo divino da educação que promove o
crescimento espiritual, gerando a renovação da mente, culminando na
transformação “conforme à imagem de seu Filho” (Rm 8.29). Essa transformação é
gradual, e a educação cristã é um dos meios importantes que nos conduz ao
estado original determinado por Deus.
[1]
CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia, teologia e filosofia. Vol.2, p.269. São
Paulo: Hagnos, 2014.
[2]
CHAMPLIN, 2014, p.268.
[3]
Definições extraídas de: PAZMIÑO, Robert. Temas fundamentais da educação
cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p.88-9.
[4] CGADB.
Declaração de Fé das Assembleias de Deus no Brasil. Rio de janeiro: CPAD, 2017,
p.25.
[5] http://www.prazerdapalavra.com.br/colunistas/oswaldo-jacob/5054-os-objetivos-da-educacao-crista-oswaldo-jacob. Acessado em 28 de maio de 18.
[6] PAZMIÑO,
2008, p. 30-1.
[7] PAZMIÑO,
2008, p. 32-3.